Translate

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

TÁ FALTANDO MÚSICA


Estava pensando em como os tempos atuais estão vazios de música em relação aos anos 70 e 80 quando me deparo com um artigo na Folha de S. Paulo de  Vladimir Safatle  cujo título chama-se "O Fim da Música".O artigo, embora não tenha a mesma direção do que eu penso sobre a música no Brasil, tem alguns pontos de concordância, como o fato de que a música, principalmente à partir dos anos 60, passou a fazer parte da linha de frente do debate cultural, como aconteceu em outros países em épocas diferentes ou na mesma época, unindo os sentimentos e pensamentos de camadas tão distintas e distantes num país em que cabe vários países ou povos.
Mas a tese de que nos momentos em que teve desenvolvimento econômico, o Brasil foi acompanhado de explosão criativa em sua produção cultural, me parece fora de tom, embora se possa dizer que a qualidade musical depende da educação da população, ou do que ela está preparada para produzir, e ouvir.
Quem viveu os tempos de interação musical dos anos 70, em que a maioria ouvia quase as mesmas músicas e de variadas qualidades, sabe que havia a opção de escolher, e que até  a música mais popular, como o samba que vinha dos morros, vinha com o selo de qualidade de grandes mestres.
Para situar o ponto de mudança temos que começar pelos anos 80. No começo da década, os músicos brasileiros começaram, ainda com alguns traços da boa formação cultural aprendida na década anterior, a expor a consciência crítica nacional agora livre da censura e foram bem sucedidos, se levarmos em conta a obra de alguns expoentes como Legião Urbana e Titãs, embora não houvesse crescimento econômico, mas que fez pensar realmente que com o desenvolvimento por vir no Brasil e do resto do mundo haveria uma explosão cultural nunca vista  antes.
O aparecimento do fator Axé e do pagode nos anos 90 que desviou a corrente musical brasileira que desembocou no funk e sertanejo no último decênio não tem muita explicação até porque ainda não foi muito estudado pelos antropólogos musicais mas podemos dizer que a industria musical optou pela simplicidade formal, ou informal.
Pode se acrescentar que o fim da era do rádio apressou o fim da escolha e difusão da música de qualidade, mas acredito também que o ponto principal,  e o pior, foi a inserção das lutas de classes no campo da cultura e nas produções musicais com a desculpa de que a música para o povo tem que vir obrigatoriamente das camadas mais pobres, mesmo de qualidade duvidosa,decretando o fim de uma pretensa dominância cultural da classe média brasileira e least but not last, dominância americana.
Acho que Vladimir tem razão em vários pontos do artigo mas não acho que a música chegou ao fim,
ela está por aí escondida, separada em pequenos nichos e nunca mais vai ser como antes, agora você tem que procurar. Mas faz uma falta danada uma integração nacional, principalmente através de musica.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário