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sexta-feira, 19 de junho de 2015

O FANTASMA,  IMORTAL
 

 
Há muito tempo atrás, quando eu era criança, brincando num quintal em que eu entrara por uma brecha na cerca, encontrei no meio do mato metade rasgada de uma página de uma revista em quadrinhos. Fiquei impressionado com os desenhos e principalmente com um estranho personagem desenhado, ainda em preto e branco. O Fantasma tinha me encontrado. Depois eu fui procurá-lo.

História geral
Neocolonialismo e quadrinhos: O Fantasma: primeiro herói mascarado dos quadrinhos. Do ponto de vista político, o Fantasma é um herói bastante ambíguo. As tiras do herói já foram acusadas por seus críticos de reproduzirem o discurso neocolonialista. Afinal, o Fantasma era um homem branco, descendente de britânicos e que reinava sobre uma tribo de pigmeus.

50 Anos depois - É inacreditável que na época atual num mundo totalmente dominado por super-heróis, dos quadrinhos mas agora em 3D, procurando algo na rede sobre meu herói preferido na infância e adolescência, tenha descoberto centenas de sites, blogs e artigos que fazem referência ou tratam exclusivamente do Fantasma, inclusive páginas no Facebook ou dissertações como esta acima.
Há também um livro: Fantasma – Biografia Oficial do Primeiro Herói Fantasiado dos Quadrinhos de autoria do professor de comunicação e pesquisador Marco Aurélio Lucchetti, este livro apresenta dezenas de depoimentos de gente do mundo dos quadrinhos, crônicas sobre o herói e entrevistas esclarecedoras com dois autores brasileiros da “era da Rio Gráfica”.
Ás vésperas de completar 80 anos a criação mais famosa de Lee Falk continua imortal nas mentes de várias gerações que foram '"encontradas".E eu não poderia deixar de fazer um artigo sobre o Fantasma, até porque ele tem um pouco de referência na minha formação e talvez até no meu comportamento. Mas não quero falar tão somente o que já está em outros artigos, quase sempre repetindo outros, mas sim  porque um personagem sem super- poderes continua popular no Brasil
(e no mundo) até hoje, no meio de super-heróis modificados geneticamente, e que ao contrário de outro herói igual, o Batman, não foi misturado em grupos ou em franquias. No Brasil, o personagem estreou no jornal  "Gazetinha", em 1936. Em 1939, "O Globo Juvenil" conseguiu os direitos dos heróis da King Features, entre os quais o Fantasma. Enquetes revelam que o Fantasma é o personagem preferido mesmo contra desenhos melhores ou histórias mais modernizadas. Por que o Fantasma permaneceu como o herói preferido na memória de tanta gente? O que o Fantasma tem de especial? É obvio que  as histórias criadas por Lee Falk e o desenhista Ray Moore tinham muitas qualidades, mas havia na era de ouro dos quadrinhos um quantidade enorme de personagens com roteiro e arte de alta qualidade e não tiveram o mesmo destaque que o Fantasma. Segundo alguns estudiosos da "banda desenhada" termo muito usado atualmente, são vários os fatores que contribuem para responder estas questões.


"O principal é o próprio personagem. Falk criou o personagem mais carismático de sua geração. O conjunto de características que cerca o herói faz dele um personagem único, num patamar acima dos demais. Mesmo não tendo aparentemente nada de excepcional nas histórias e desenhos, sua saga, embasada na mitologia da imortalidade, por manter uma tradição de 4 séculos de pai para filho, faz dele um personagem distinto dos demais.
Todos os iniciados sabem que o Fantasma usa uma máscara preta e um uniforme roxo. Mas Falk originalmente o criou com um uniforme verde, afinal era tipo uma camuflagem na selva, mas por problemas gráficos ou com a tinta a primeira edição colorida saiu roxa e ficou. Mas em outros lugares do mundo, por problemas com a tinta local, o uniforme ficou com cores diferentes: ele é azul na Escandinávia, Marrom na Nova Zelândia, vermelho no Brasil, Espanha e Itália, e roxo no resto do mundo. Mas Falk depois criou uma explicação para a cor do uniforme, baseado nas vestes de um deus das lendas africanas.
Lee Falk também criou toda uma infraestrutura ao redor do personagem, baseada na caverna da caveira no centro da impenetrável Floresta Negra, localizada em algum lugar entre a Ásia e a áfrica,
guarnecida pelos temíveis pigmeus da tribo bandar, estes os salvadores do primeiro naúfrago que começou a linhagem dos fantasmas. Ele ficou conhecido como "O espirito que anda" por ter sido visto através de várias gerações de nativos das tribos vizinhas, os Longo e os Wambesis. Apenas Guran sabe que ele não é imortal.
Mas o criador visual do herói foi Ray S. Moore, que deu aos desenhos um estilo noir, com muita luz e sombra, próprio dos filmes policiais da época. Outra reconhecida qualidade de Moore era criar belas mulheres, elegantes e sensuais. Em 1948, o herói passou às mãos de Wilson McCoy, assistente de Moore. É tido como o pior dos desenhistas do personagem, mas foi quem o consolidou perante o grande público. Foi com ele que novos elementos foram introduzidos na historia, como o cavalo branco, na verdade um corcel, chamado Herói; a Ilha do Éden, uma espécie de reserva onde habita animais curiosos;  as marcas do Fantasma, feitas pelos dois anéis que ele usa: um Anel do bem que ele usa para marcar as pessoas que estão sob sua proteção; o outro é o temido Anel da caveira, que deixa sua marca no rosto dos criminosos e que nunca desaparece; a Patrulha da Selva, a Caverna da Caveira e as Crônicas do Fantasma. O traço de McCoy era duro, quase caricato, que engrossava a silhueta do personagem de Lee Falk, tornando-o meio gordinho.

 
"Diz a lenda que quando o Fantasma vai à cidade, usa as roupas de um homem comum", se transformando no "Sr. Walker". Na verdade um casaco e um chapéu. Este é um velho ditado da selva , mas não o único, as histórias estão cheias deles, como  "O Fantasma-que-Anda nunca morre".
Falk criou uma história  cercada de mitologia necessária para que todo o aparato que cerca o polêmico personagem funcionasse.
NA CAVERNA DA CAVEIRA se encontra um fabuloso tesouro, acumulado ao longo do tempo pelos antecessores e protegido pelos pigmeus e o trono da caveira, onde além do fantasma somente  Guran  o chefe da tribo e seu fiel escudeiro tem acesso. Existem dois aposentos com tesouros. Num deles, ouro, prata e jóias preciosas para financiar a eterna luta contra o mal chamada a sala do pequeno tesouro. No outro, peças dignas de um rei: a espada Excalibur, a lira de Homero, a trombeta de Rolando, a Taça de Alexandre e outras; Também ali se encontram as Crônicas do Fantasma, numerosos livros escritos a mão que registram todas as aventuras dos 21 fantasmas, e uma Cripta onde estão depositados os corpos dos seus antepassados.Para controlar legalmente toda a selva, Falk decidiu que o Fantasma também seria o comandante da Patrulha da Selva, de localização distante na beira da floresta, a qual comanda de um modo peculiar. Por mensagens deixada na sala do comandante, fechada e lacrada, na qual ele entra através de um túnel no subsolo. Uma lâmpada vermelha acende quando há alguma ordem deixada na sala e somente o encarregado autorizado entra para pegá-la.
MISTÉRIOS e SEGREDOS acompanharam as histórias do Fantasma por todo o tempo, mas  alguns só foram explicados  depois de décadas, como na história em que o Fantasma descobre a falta de uma folha no livro de crônicas de 1675. Lee Falk deixou no ar o final de "Afeiticeira de Hanta" de 1965, uma aventura lida pelo Fantasma no livro das crônicas, quando descobre que a última página foi arrancada. Somente em 1974 no livro lançado por Falk  " Os Vampiros e a Feiticeira" foi mostrado o que estava na página perdida, e nos quadrinhos somente em 1979 na história "O Nome": O Fantasma de 1675 tinha se casado com a feiticeira Hanta, provavelmente não queria que soubessem do fato.
Outro segredo é o veneno das flechas envenenadas dos Bandar, ensinado aos pigmeus pelo primeiro Fantasma na história "O primeiro Fantasma", mas depois de ser atingido nas costas por uma flecha disparada por Timo, filho rebelde de Guran, o Fantasma entregou o antídoto finalmente: a seiva de três flôres brancas com a forma de sino, encontradas na ilha do éden.
O último mistério nunca revelado é com relação às mulheres de 19 dos 20 fantasmas anteriores, a única conhecida é Maude, mãe do 20° Fantasma e mãe do atual, que morreu em paz na caverna da caveira.
Além do seu amor de sempre, Diana Palmer, as mulheres foram elementos recorrentes nas histórias do Fantasma, embora numa época cheia de machismo, o herói sempre caia um pouquinho pro lado feminino, mesmo quando enfrentou a gang Piratas do céu, formada por mulheres. Tanto a implacável líder Baronesa quanto a número dois Sala, e a número três Margo, sucumbem ao charme do mascarado.
Mas o Fantasma se mostra mesmo defensor também das mulheres na história "As olimpíadas da Selva", quando esta periga ser cancelada porque as mulheres querem participar e os homens não aceitam, ameaçando um boicote. Com a mediação do Fantasma, ufa! as Olimpíadas são realizadas.


Tantos detalhes fizeram das histórias escritas por Lee Falk , que morreu em Nova York em 13 de março de 1999, momentos inesquecíveis para várias gerações, Com o passar das décadas, novos elementos foram introduzidos na saga do seu personagem maior. A casa da árvore foi construída para o Fantasma  após seu casamento com Diana, por uma aldeia amiga, o Povo da Corda. Mas não precisava mais nada, tudo já estava escrito nas nossas crônicas e mentes. 

Thanks


 
 


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