Numa bela manhã de domingo passo em frente a uma banca de revistas e lá de dentro uma figura conhecida que eu não via há muito tempo me impele a entrar e constatar que é verdade: uma revista com os quadrinhos clássicos do Fantasma, Piratas do céu, foi relançado. No meio da floresta de Bengala, o Fantasma enfrenta uma quadrilha composta apenas por mulheres, algo inusitado para a época em que foi lançado, o que era uma das características diferenciadas do criador do Fantasma, Lee Falk.
Reler esta obra dos mestres Lee Falk e Ray Moore, originalmente destinada aos jornais da segunda metade dos anos 1930, faz o leitor, principalmente o admirador, perceber o quanto os quadrinhos da era de ouro são luxuosas fontes de informação para avaliar as transformações ocorridas na sociedade nesses quase 80 anos de vida do personagem.
Num tempo em que a mulher não tinha direitos iguais ao homem, a saga criada por Falk traz logo uma quadrilha formada só por mulheres para desafiar o espirito-que-anda, mulheres lindas, sofisticadas mas, todas tem o ponto fraco de serem suscetíveis a lábia que hoje seria considerada machista do Fantasma.
A ideia central de Lee também é genial, ela retrata as aventuras do 21º Fantasma, herdeiro dos seus antepassados de uma missão de combater o mal, o que o tornou para o povo da selva uma lenda, e tido como imortal.
Nesta aventura o Fantasma se mostra mais divertido, ao contrário da sua fama de taciturno e de poucas palavras, talvez por estar em meio a mulherada. Mas chama a atenção os diálogos de duplo sentido numa época em que a sociedade americana, e o mundo em geral, era purista e em grande parte reacionária.
Como diversão o final da história é hilário, como aliás parece hoje toda a saga. O Imortal, o espirito-que-anda, o mais-temido-da-floresta usa um ratinho para provocar pânico nas piratas do céu, mulheres que pilotavam aviões de combate e enfrentaram todo o exército de Bengala.
Mas que outro final poderia ter?
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