"Motivo", é o primeiro poema da obra-prima Viagem escrito por Cecília Meireles em 1939, a mulher que adotou a arte como modo de vida usou a meta-linguagem para fazer poesia e espantar o exo-mundo que girava ao seu redor. Degustar seus poemas é como sair do proprio corpo. Cecilia quando nasceu no Rio de Janeiro em novembro de 1901, já encontrou mortos, seus três irmãos mais velhos e também seu pai, falecido cerca de três meses de seu nascimento. Continuando o ciclo de perdas, aos três anos, a menina perde sua mãe. Tais perdas deixou em Cecília a noção de "transitoriedade em tudo", ou seja, que tudo na vida passa e esse sentimento ela carregará por toda a sua vida, inclusive, imprimindo-o em suas obras e é bem clara em "Motivo"
Começando uma carreira numa época em que as mulheres ainda não tinham seu lugar reconhecido, sofreu preconceitos e perseguições na era Vargas e inclusive, teve a biblioteca que ela montara para crianças fechada por ordens do proprio Presidente Vargas. O motivo? Alegação que um dos livros presentes na estante, As Aventuras de Tom Sawyer (Mark Twain) era uma obra prejudicial à formação das crianças. Além dessa perseguição que sofreu, Meireles perde seu esposo, Fernando Correia Dias, em 1939. Parecia que nada dava certo em sua vida, até que, misteriosamente, recebe uma carta de alguém que dizia ser médium; nessa carta, alegava-se que Cecília deveria retirar um "l" do seu sobrenome (O sobrenome dela até então era grafado como Meirelles), pois assim tudo melhoraria em sua vida. Sem explicações, realmente depois que Cecília passou a grafar seu sobrenome como Meireles, tudo passou a melhorar em sua vida. Ainda em 1939, Cecília publica aquele que seria um de seus melhores livros, "Viagem". Escrito, à época do Modernismo, apresenta em alguns de seus poemas a presença de rimas, porém, não há a questão do rigor da métrica, como no parnasiasmo, por exemplo. Cecília prefere explorar a musicalidade dos versos e também a imagens que os versos evocam. Chamada de neo-simbolista ou qualquer outro rótulo, nada define a força da poetisa, que tambem foi Jornalista, Pintora e professora, o que importa é finalmente, o poema e como ele lhe preenche. MOTIVO, foi musicado por Fagner
no disco EU CANTO QUEM VIVER CHORARÁ de 1978.
Não vou deixar a porta entre aberta. Vou escancara-la ou fecha-la de vez. Porque pelos vãos, brechas e fendas...passam semiventos, meias verdades e muita insensatez.
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