O MORTO-VIVO
(pintura de Igor Moura em cima de uma foto de Rogerio Skylab)
Naturalmente, quando me refiro ao cinema nacional, do qual não tenho nenhum orgulho, estou me referindo a um contexto que vigora desde a Embrafilme. Que engloba produtores, diretores, atores. São os Lírios, os Lázaros, os Padilhas e Cia Ltda. É o clã dos Barretos. Daniel Filho transformando o cinema em tv. As leis de incentivo e a política cultural. A parasitada mamando legal.
Claro que tem o Cinema Novo, mas só até meados de 65, porque depois a gente sabe no que veio a dar. Tem a Chanchada. O nosso Zé do Caixão. Todos maravilhosos. E, fundamentalmente, tem a Boca do Lixo, isto é, Rogério Sganzerla. Nesse caso, o buraco é mais embaixo e estamos tratando do nosso maior cineasta. Os professores de literatura adoram citar Deus e o Diabo. O Bandido é melhor.Mas o que eu queria era dizer de algo que venho sentindo na carne. Não como crítico mas como artista. Nesse caso, não são conceitos elaborados. São pressentimentos, intuições.
Sganzerla dizia que a turma do Cinema Novo, na época, ou paternalizava ou marginalizava. E que essa seria a principal diferença entre ele e seu companheiro Júlio Bressane. Enquanto esse último era adotado pela turma, chegando inclusive a trabalhar como assistente de produção deles, Sganzerla era marginalizado. O que não o impedia de apontar o dedo. Em vários momentos, se declarou boicotado. Inclusive, pela própria classe.
Fazendo uma analogia com os dias de hoje, eu vejo um eixo de poder que passa tanto pela música quanto pelo cinema. Atravessa Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. Os cineastas adotam os músicos e vice-versa. Por exemplo: a dupla Lírio e Otto. Os produtores adotam músicos. Por exemplo: Youssef e dona Maria Juçá. O Stúdio passa a ser a sucursal do Circo. Os músicos se revezam entre determinados artistas e tudo se torna muito saudável. Fica tudo em casa. Mas com as janelas e portas bem fechadas. Aqueles que estão integrados ao eixo de poder, maravilha. Terão espaços abertos para tocar, terão seus discos resenhados em grandes veículos, inclusive, em blogs bacaninhas. Mas se não tiver a sorte de "pertencer", e se seu trabalho não tiver a cara saudável da nova música popular brasileira...
A única exceção foi a Folha, que fez uma cobertura bacana do meu último disco. Sem esquecer o Thunderbird.
Falo por mim. Moro no Rio de Janeiro, tenho mais de 200 canções gravadas e com uma discografia invejável em se tratando de músico independente. Pois continuo sendo boicotado no jornal O Globo (entreguei em mãos o meu último disco que não teve uma linha sequer no dito jornal ), a dona Maria Juçá insiste que eu não existo, e a MTV tem uma má vontade dos diabos.
Entendem agora a condição de cadáver?
Muitos colegas que começaram comigo, diante de tantas portas fechadas, largaram de vez o negócio. E foi uma pena. Porque muitos deles eram maravilhosos e valia a pena serem ouvidos. Mas, como eu já disse em outras ocasiões, a minha condição de cadáver não impede que eu continua. Porque existem aqueles que são mortos-vivos. É o meu caso.
Posted 6th February by rogerio skylab
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