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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

1976

Em 1976 saíamos em bando, como era de praxe, para um clube da perifería para ver algum show de um dos artistas da época, como Tim Maia ou o grupo Painel de controle. Recém chegados ao Rio morávamos em grupos de cinco ou seis  em casas alugadas geralmente perto do centro da cidade, e os fim de semana virávamos o Rio de cima à baixo, de jacarepaguá à Niterói, de Copacabana à Caxias.
Numa noite, em 1976, entramos por curiosidade numa área hoje conhecida por comunidade, nos arredores de Caxias, prá ver de perto um baile de Funk que começava a fazer sucesso depois do aparecimento da Banda Black Rio na TV com "Maria Fumaça". Nada a ver com os bailes funk de hoje, mas era frequentado basicamente  por negros amantes de Jimmy Cliff e Kurtis Blow e a barra diziam, era meio pesada. Tomamos nossa cerveja sem sermos incomodados e fomos continuar a noite no CAP de Caxias, um dos clubes mais festejados da periferia. Voltamos depois das duas, de ônibus, até a Central do Brasil, depois seguimos à pé pela Presidente Vargas deserta direto para a praça Mauá onde ficavam dezenas de boates e a noite ainda estava longe de terminar.
Não havia nenhum sobressalto ou medo nestas aventuras pela noite nestes anos, não sabíamos o que era assalto ou medo de sequer ouvir um tiro de arma de fogo.


No inicio dos anos 80, o pessoal que saía do expediente no HNMD, tinha que passar pelo Méier. Nos fins de semana era obrigatório se reunir com os amigos nos arredores do Imperator. A Dias da Cruz fervilhava de bares e as pessoas eram alegres e despreocupadas. Despreocupadas com a segurança.
Assim também era na Tijuca, nos arredores da Saenz Pena, mágica à noite, com restaurantes, bares e cinemas, assim também era na Penha ou qualquer lugar no Rio, e dos morros só descia a música dos seus compositores e os melhores sambas-enredo nunca mais vistos
Nas ultimas vezes que passei por estes lugares, fiquei espantado em ver o centro do Méier deserto e às escuras. Senti saudades ao ver a Praça Saenz Pena deserta e sem cinemas e não há mais como perambular ou o que fazer em Caxias ou Nilópolis.
Para quem viveu nos tempos do regime militar, fica fácil distinguir que em todos aqueles anos havia muito mais coisas à celebrar do que lamentar. Apesar de todos desejarem a tão sonhada Democracia, não era prá ficar assim do jeito que está. Sinto como que perdemos lentamente a felicidade e a identidade em  décadas andando prá trás  rumo a um futuro cada vez mais obscuro.

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