Numa noite, em 1976, entramos por curiosidade numa área hoje conhecida por comunidade, nos arredores de Caxias, prá ver de perto um baile de Funk que começava a fazer sucesso depois do aparecimento da Banda Black Rio na TV com "Maria Fumaça". Nada a ver com os bailes funk de hoje, mas era frequentado basicamente por negros amantes de Jimmy Cliff e Kurtis Blow e a barra diziam, era meio pesada. Tomamos nossa cerveja sem sermos incomodados e fomos continuar a noite no CAP de Caxias, um dos clubes mais festejados da periferia. Voltamos depois das duas, de ônibus, até a Central do Brasil, depois seguimos à pé pela Presidente Vargas deserta direto para a praça Mauá onde ficavam dezenas de boates e a noite ainda estava longe de terminar.
Não havia nenhum sobressalto ou medo nestas aventuras pela noite nestes anos, não sabíamos o que era assalto ou medo de sequer ouvir um tiro de arma de fogo.
No inicio dos anos 80, o pessoal que saía do expediente no HNMD, tinha que passar pelo Méier. Nos fins de semana era obrigatório se reunir com os amigos nos arredores do Imperator. A Dias da Cruz fervilhava de bares e as pessoas eram alegres e despreocupadas. Despreocupadas com a segurança.
Assim também era na Tijuca, nos arredores da Saenz Pena, mágica à noite, com restaurantes, bares e cinemas, assim também era na Penha ou qualquer lugar no Rio, e dos morros só descia a música dos seus compositores e os melhores sambas-enredo nunca mais vistos
Nas ultimas vezes que passei por estes lugares, fiquei espantado em ver o centro do Méier deserto e às escuras. Senti saudades ao ver a Praça Saenz Pena deserta e sem cinemas e não há mais como perambular ou o que fazer em Caxias ou Nilópolis.
Para quem viveu nos tempos do regime militar, fica fácil distinguir que em todos aqueles anos havia muito mais coisas à celebrar do que lamentar. Apesar de todos desejarem a tão sonhada Democracia, não era prá ficar assim do jeito que está. Sinto como que perdemos lentamente a felicidade e a identidade em décadas andando prá trás rumo a um futuro cada vez mais obscuro.
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