No início de 2018 , com os ataques do governo de Al-Assad aos rebeldes na cidade de Gouta, parece que alguns brasileiros descobriram que havia uma guerra sangrenta na Síria e chocados com as noticias da morte de crianças começaram a rogar por ajuda e providências das potências do mundo para estancar o novo holocausto. Compreensível a preocupação em defesa da paz de cidadãos que acabaram de pular carnaval por um mês inteiro embora sob o perigo de balas perdidas num país nada pacífico,mas devo avisar que a guerra na Síria começou em 2011, e é importante procurar ler sobre o que aconteceu nestes ultimos anos antes de começar a rezar pela Síria. Após demonstrações pró-democracia, inspiradas pela Primavera Árabe, que começaram na cidade de Deraa, no sul do país. Mas o uso de força por parte do governo fez com que os protestos tomassem proporções nacionais. A violência logo aumentou e a Guerra Civil teve início, após centenas de brigadas rebeldes serem criadas para lutar contra as forças do governo.Um fator chave é a intervenção de potências regionais e globais no conflito, incluindo Irã, Rússia, Arábia Saudita e os Estados Unidos. O suporte financeiro, militar e político para governo por uns e para a oposição por outros têm contribuído diretamente com a intensificação e continuação do conflito, que transformou a Síria em um verdadeiro campo de batalha.Forças externas também são acusadas de favorecer o sectarismo em um Estado secular, colocando a maioria Sunita da população contra a minoria Alauita, um grupo étnico-religioso que segue o Xiismo, e do qual a família de al-Assad faz parte. Tais divisões encorajaram os dois lados a cometerem atrocidades que não causaram apenas a perda de vidas, mas também acabou com comunidades e diminuíram às chances de um acordo político.Para piorar tudo, grupos jihadistas também tomaram parte nessas divisões, o que deu maiores dimensões para a guerra. Por exemplo, a Hayat Tahrir al-Sham, uma aliança formada por membros da Frente Al-Nusra (um ex-braço do grupo terrorista al-Qaeda), controla grandes partes do província de Idlib, no noroeste da Síria.Enquanto isso, o famoso grupo terrorista Estado Islâmico controlou boa parte do norte e leste da Síria, com a distinção de serem inimigos de todos os grupos envolvidos no conflito: eles lutam contra as forças do governo, grupos rebeldes e milícias curdas, além de sofrer ataques aéreos de Estados Unidos e Rússia.Se já não bastasse tudo isso, milhares de milicianos alauitas oriundos do Irã, Líbano, Iraque, Afeganistão e Iêmen dizem que estão lutando ao lado do exército sírio, com a desculpa de que querem proteger locais sagrados do grupo.Apesar de não apoiarem o ditador, cristãos, xiitas e até parte da elite sunita preferem ver Assad no poder diante da possibilidade de ter um país tomado pelos extremistas.
Diante da impossibilidade de apoiar o mau contra o pior, nem a ONU, a UE ou o Papa podem dar palpite sobre a guerra, a não ser rezar. Quanto às alianças externas, Assad conta com o apoio da Rússia,China e do Irã que através do grupo libanês Hezbollah, forma um “eixo xiita” que segue essa interpretação da religião islâmica. acredita-se que o Irã está gastando bilhões de dólares por ano para impulsionar o governo sírio, providenciando conselheiros militares e armas, bem como linhas de crédito de transferência de combustíveis. Também já é de conhecimento geral que os iranianos posicionaram centenas de tropas na Síria.O grupo se opõe a Israel e disputa a hegemonia no Oriente Médio com as monarquias sunitas, lideradas pela Arábia Saudita. O principal aliado de fora é a Rússia, que mantém uma antiga parceria com a Síria. Tanto o apoio do Hezbollah e das milícias iranianas, quanto os bombardeios mais recentes realizados pelas forças russas têm sido fundamentais para a sobrevivência do regime de Assad e o seu recente fortalecimento no conflito. Os Estados Unidos, que dizem que al-Assad é responsável por diversos tipos de atrocidades, providenciaram apenas uma assistência militar limitada para grupos rebeldes “moderados”, por terem medo de suas armas acabarem parando nas mãos de jihadistas e o surgimento de grupos radicais como o Estado Islâmico, mas também já fizeram um ataque contra o governo sírio por conta de um ataque químico contra civís.
A oposição não é flor que se cheire, é formada por um punhado de grupos rebeldes. Uma das primeiras forças internas que se rebelou contra o governo sírio foram os grupos sunitas, que se opunham a Assad, que é xiita. Os sunitas têm dezenas de ramificações e ideologias, mas unem-se com o princípio básico de derrubar Assad. São chamados de “rebeldes moderados”, por não serem adeptos do radicalismo islâmico. A maior expressão entre eles é o Exército Livre da Síria (ELS). A organização está envolvida com países da Europa e com os Estados Unidos com o objetivo de derrubar o governo de Assad. Três grandes potências no Oriente Médio também colaboram com os rebeldes: Turquia, Arábia Saudita e Catar, relevando os interesses dos países próximos à Síria, também. A Arábia Saudita, que é governada por sunitas e deseja contra atacar a influência do Irã no Oriente Médio, também está providenciando assistência militar e financeira para as forças rebeldes.Some-se a isto,os extremistas Islâmicos, os grupos que querem derrubar Assad, que estão fragmentadas em diversos grupos. Uma das organizações que mais conquistaram terreno, principalmente nos primeiros anos do conflito, foi a Frente Al-Nusra, um braço da rede extremista Al Qaeda na Síria. Posteriormente, a partir de 2013, o EI aproveitou-se da situação de caos criada pela guerra civil e, vindo do Iraque, avançou de forma avassaladora e brutal, ocupando metade do território sírio. Em 2014, o E.I. dominou algumas áreas na Síria e no Iraque, as quais chamou de califados – o termo se refere aos antigos impérios islâmicos depois de Maomé, que seguiam rigorosamente as leis islâmicas. Correndo por fora ,mas dentro da guerra estão os Curdos, uma etnia apátrida, que habitam diversos países,inclusive na Síria, que reinvidicam a criação de uma nação para seu povo. Para o regime de Assad, tornaram-se bastante úteis, porque a milícia se opõe tanto aos rebeldes moderados como aos extremistas do Estado Islâmico.
Diante deste coquetel politico-religioso explosivo, é mais fácil compreender que a questão da Siria não é para fracos desvendarem. A guerra na Síria não tem solução á vista. Qualquer lado que vença vai desenrolar uma nova guerra em pouco tempo. Não adianta reclamar do que acontece na Síria.
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